Yèyé olomi tútú. Opàrà òjò bíri kalee.

Yèyé olomi tútú. Opàrà òjò bíri kalee.

Graciosa mãe, senhora das águas frescas.
Opàrà, que ao dançar rodopia como o vento, sem que possamos vê-la.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

PÃES E CIRCOS: OS RISCOS NA CONSTRUÇÃO OCIDENTAL DAS RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS

PÃES E CIRCOS: OS RISCOS NA CONSTRUÇÃO OCIDENTAL DAS RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS
Parte 01


PANEM ET CIRCENSES: Do Coliseu ao cenário brasileiro

As religiões de matrizes africanas sempre foram alvo de criticas infundáveis e desassociadas daquilo que elas realmente representam para a construção da formação cultural brasileira. Diferente das demais religiões, elas não possuem um caráter de arrebanhamento, nem tão pouco reproduz as propostas de busca de novos adeptos como as demais religiões que através apelos sensacionalistas, tanto nas emissoras de TV como em todos os outros meios de comunicação, realizam uma verdadeira demonstração de curas, milagres e operações de sinais, até mesmo adivinhações e magias.

Pães e circos pode ser uma expressão utilizada para apresentar uma bem feitoria em troca de algo superior ao que está se ofertando. Na antiga, a política de “panem et circenses” ofertava a população um porção de pão e trigo e em troca eles assistiam a lutas de gladiadores como no Coliseu. Esses eventos eram promovidos para dar certo divertimento à população de escravos e camponeses que perderam seus empregos e migraram para os centros urbanos causando uma série de problemas sociais como a miséria e a fome. O imperador, para essas pessoas não se rebelarem, oferecia festivais e eventos como um “cala boca” para os enganados.
Como na Roma antiga, atualmente a população se vê enganada por palcos mirabolantes e shows evangélicos e pentecostais com a promoção de “milagres, curas e sinais de maravilhas”. Como se já não bastasse à postura do governo de também implantar uma política de “pães e circos” com os famosos programas sociais que contribuem na reprodução da pobreza e na interdependência financeira desses programas. Enquanto o dinheiro público fica sendo utilizado em projetos mirabolantes e com super faturamento de contas públicas, a população é distraída no Coliseu das Misérias em seus programas sociais.
Já nos terreiros e casas de cultos africanos, há um perigo na reprodução dessas praticas a partir do acumulo de curiosos e pesquisadores. O maior risco é a promoção de festas e comemorações com o fim de envolvimento “politiqueiro”. Outros vêem as religiões africanas como um refúgio às religiões cristas e decorrentes do uso de vaidade ingressam sem compromisso algum com os Orixás do Candomblé e com os guias e entidades da Umbanda. Há adeptos do candomblé que simplesmente “fizeram o santo” por pura vaidade e por isso representar entre os religiosos certo status.

Como nas praticas que se assistem diariamente na televisão com os programas evangélicos, os terreiros e casas de cultos africanos podem se tornar palcos onde se promove apenas danças e festivais de bebidas. Curiosos podem freqüentar as casas para ver o brilho e o rodado dos vestidos das “Pombas-giras e ciganas”, contemplar-se das rezas e passes dos caboclos e guias, beber com os exus ou dançar ao toque dos atabaques. Isso tudo para superar um desejo próprio que ao invés de compromisso religioso passa a ser apenas luxo e vaidade.
A distribuição de “pães e circos” repete-se de modo muito claro desta vez na cultura ocidental. Tanto a fé nas entidades e guias dos cultos afroamazônicos como a ancestralidade e o culto aos orixás tem se tornado uma prática muito folclórica onde poucos adeptos tem de fato uma devoção verdadeira.
Tornou-se comum na nossa sociedade as pessoas se identificarem como evangélicos. Se analisarmos bem, existem igrejas evangélicas para todos os tipos de fieis. Até as igrejas mais fundamentalistas e tradicionais resolveram por optar a modelos mais modernos. Isso também se repetiu nas religiões de matrizes africanas. As universidades e grupos de pesquisas científicas invadem os terreiros. Na realidade o risco da construção ocidental começa a fazer parte do nosso dia a dia a partir dessa novidade.
Os fundamentos e segredos transmitidos através da oralidade de modo ancestral que chegou aos nossos dias mesmo sabendo de interferências interculturais e inter-éticos ao mesmo tempo em que não podem compor os livros das ciências, não pode também deixar de ser considerado como elementos contribuidores da construção da fé nacional. São esses agravos que nos dão medo e que ao mesmo tempo nos estimulam. Essas situações em muitas vezes nos fazem questionar: quem somos hoje? Quem são os povos de comunidade de terreiro do contemporâneo?
Essas interferências estão fazendo parte hoje da nova construção feita sobre as religiões de matrizes africanas no Brasil. São esses os novos adeptos e filhos de santo que freqüentam os nossos terreiros e casas de cultos. A construção ocidental a partir dessa interferências pode ter uma nova configuração que com certeza serão as novas referencias para a cultura africana no país.


Autor: Prof. Ms. Kary Falcão com Mãe Helena de Omolu
Ogãn do Ossosi Omó Oxun do Ilê Axé Odé Fumilayó
Porto Velho - Rondônia


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